Dou aulas ao 3º ciclo e também a turmas dos Cursos de Educação e Formação, vulgo, CEF. A propósito de atendimento ao público e de reclamações, falei de gestão de conflitos, escuta activa e assertividade. Rapidamente o tema resvalou para experiências pessoais e familiares. Queixavam-se várias alunas que em casa as suas mães não as ouviam e que gritavam muito…. “A minha mãe não fala comigo, só grita, stora!”. Entre outros aspectos, disse-lhes na altura que se gritavam era talvez por também elas não se sentirem ouvidas... e que essa seria uma tentativa para o conseguirem. Sugeri que experimentassem simplesmente dizer-lhes que as queriam ouvir, que estavam dispostas a ouvi-las... e, já agora, que as ouvissem mesmo.
Quando voltei a ter a turma, uma semana depois, duas das alunas chegaram muito entusiasmadas a querer “contar coisas...” A questão era que, para surpresa delas, as suas mães tinham, naquela semana, deixado de gritar... A reacção fora também para elas inesperada: “Resultou, stora!” "A minha mãe ficou bué calminha, nem parecia ela!"
Bem sei que o resultado é pequenino e doméstico e que não sei se elas, no futuro, em contexto profissional ou outro, se vão lembrar de ouvir efectivamente quem estiver à sua frente, insatisfeito ou mesmo muito zangado por uma qualquer razão… mas, pelo menos durante uma semana, houve duas mães (e duas filhas...) mais felizes! E uma professora!
Alice Carvalho